domingo, 7 de dezembro de 2008

27º Encontro do dia 04/12

Confraternização de encerramento do curso Alfabetização e Linguagem

PARÁBOLA DO HOMEM DAS CHAVES
Prof Nascimento

Numa pequena aldeia, havia um homem que aprendera a fazer chaves. E as fazia tão bem que logo lhe apareceram vários candidatos a aprendiz. Uma chave presa a um cordão era o certificado de conclusão do aprendizado com aproveitamento.O artesão estava cada vez mais feliz com sua arte. Na verdade, estava tão feliz que mal percebia a decepção dos seus ex-discípulos. Estes, após terem viajado mundo afora, retornavam desanimados, atirando suas chaves aos pés do antigo mestre.Eis que, após muito tempo, começou a ficar incomodado com o que denominava ingratidão. Precisando de aconselhamento, subiu a montanha e procurou o sábio eremita. Queria saber por que as pessoas são tão ingratas para com alguém que tudo faz por elas. E contou o caso da devolução das chaves.O eremita ouvia atentamente e, quando o interlocutor terminou sua exposição, nada disse por alguns segundos, que pareceram ao artesão uma eternidade.— Bom homem — começou o ermitão, alisando sua barba longa e encanecida —, a vaidade é o grande pecado daqueles que julgam ensinar. O que você dava aos seus discípulos não era ensinamento, mas uma exibição de arte e poder. Você adorava o título de Mestre das Chaves.O artesão ouvia tudo sem nada refutar, cabeça baixa, as mãos apertando nervosamente um velho chapéu de couro. As palavras do sábio calavam fundo, atingindo-o em cheio. O velho montanhês sabia das coisas da vida. Parecia ler a alma das pessoas.— Mas eu fiz um bom trabalho. Por que eles não reconhecem isso?— Bom homem, você nunca parou para avaliar seu trabalho de um ponto-de-vista importante: quando se ensina, o mais importante é o aprendiz. Você, em algum momento, questionou a validade de seus ensinamentos para o crescimento de seus aprendizes? Presumo que não.O artesão fez um gesto de desânimo, e o ancião da montanha continuou:— Seus discípulos confiavam em você, e você os traiu. Por onde quer que eles andem, levam sempre uma chave pendurada ao pescoço. Essa chave não os leva a nenhum lugar importante. Não conseguem, com ela, alterar a realidade em que vivem, abrindo caminhos novos e mais promissores. Você não lhes ensinou o que fazer com as chaves. Você mesmo não deve saber por que e para que faz chaves. Saiba que chaves devem servir para abrir portas, ou se tornarão objetos inúteis.O artesão agradeceu ao velho eremita e, pensativo, desceu a montanha lentamente. Tirou do pescoço a sua chave, mirou-a fixa e demoradamente, num gesto quase solene, e murmurou:--- Tenho muito que aprender sobre você, antes de voltar a formar novos artesãos.

* * *Abraços fraternos a todos! Obrigado colegas e minha tutora Valquíria por terem me ensinado a usar algumas chaves. Espero também eu ser reconhecida, não pela beleza de meus trabalhos, mas pelo êxito em ajudar meus alunos a conseguirem chaves que abram as portas do futuro.É o que desejo também a todos vocês, educadores maravilhosos!!!* * *

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

26º Encontro do dia 27/11

EXPO- DREP Exposição dos trabalhos realizados nas escolas de Planaltina

Que bom ver tanta gente engajada em bons trabalhos de alfabetização e leitura. A comunidade escolar de Planaltina sabe demonstrar o quanto é eficiente e tem se sforçado para desenvolver o letramento dos alunos. Fiquei encantada com os trabalhos apresentados e estou muito orgulhosa de pertencer a essa Regional de ensino. Tenho muitos colegas trabalhando por aí em todas as escolas dessa cidade. Acho bom conhecer tantos profissionais competentes e dedicados a seus alunos. Colegas que estudaram junto comigo no Magistério ou na Faculdade e que dedicam tanto carinho na realização de seu trabalho, se envolvendo de fato com a comunidade, com os alunos e sua famílias e se comprometendo a fazer o melhor possível em prol da educação. Infelizmente ainda não são todos, mas acredito no nosso poder de contagiar cada vez mais pessoas com trabalhos como esse que divulguem os resultados positivos do esforço coletivo, da criatividade e da perseverança em incentivar o aprendizado de forma prazerosa e estimulem a participação de cada vez mais profissionais em atividades como estas aqui apresentadas. Parabéns colegas!!!

25º Encontro do dia 20/11

Socialização de experiências em sala de aula
Oficina de leitura e produção de textos multimodais

Você acha possível ler um texto que não tenha palavras?
Qual a linguagem utilizada num texto sem palavras?
Qual o gênero de um texto não-verbal?
Como será um texto não-verbal?

Material Necessário

Textos multimodais – charges
Cartazes com os textos ampliados
Cópia com as charges reduzidas
Transparências com charges diversificadas
Lápis, borracha, apontador, caneta
Tesoura e cola

Público-Alvo

Crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos…
… qualquer pessoa que tenha ou não interesse pela leitura!

Operacionalização

1º Momento

Formar grupos com 04 participantes em cada
Apresentar a proposta da oficina
Mostrar os cartazes com as charges ampliadas, um de cada vez
Instigar a leitura e a produção de textos orais sobre as imagens
Compartilhar as idéias
Falar sobre os textos multimodais


2º Momento

Apresentar a proposta da confecção dos livros
Orientação sobre a transcrição de textos não-verbais para textos verbais
Oferecer o material necessário para cada grupo
Confecção do livro em origami
Ordenação e colagem das charges – as mesmas dos cartazes, mas reduzidas
Produção escrita, revisão e reescritura
Apresentação dos livros para todos os participantes da oficina


3º Momento

Intervalo e lanche
Apresentação de outras charges em transparência
Leitura e produção de textos orais sobre as mesmas


4º Momento

Apresentação e socialização dos livros produzidos para toda a comunidade escolar


Textos multimodais são produções que apresentam várias alternativas de leitura e de interpretação além da decodificação da escrita, ou seja , que têm outros modos de lermos. Alguns bons exemplos de leitura de textos multimodais são charges, histórias em quadrinhos, tirinhas de jornais ou revistas, pinturas, esculturas, grafites, músicas, slogans, mapas, hierogrifos, placas de trânsito, gráficos, outdoors... Em suma, existem multimodos de lermos o mundo que nos cerca e nossos alunos merecem perceber essas possibilidades!




24º Encontro do dia 13/11



Apreciação dos portfólios
Nossa tutora e colegas puderam apreciar os blogs durante esse encontro e trocar idéias sobre como incrementar o portfólio, como usar as ferramentas e que textos e "layouts" ficariam mais interessantes. Foi uma excelente experiência pois eu etava curiosa para conheceros trabalhos de alguns colegas que ainda não tinha visto e também saber a opinião deles a respeito do meu portfólio. A troca de saberes usando o computador ao vivo foi super importante e acho que devíamos ter feito isso mais vezes juntos, pois dessa forma ficou muito mais fácil tirar qualquer dúvida e corrigir na mesma hora, o que é bem mais eficiente do que ler nos comentários e só depois corrigir ou alterar. Acredito que não só eu, mas todos os que participaram desse encontro consideramos essa experiência muito útil para nosso aprendizado.

23º Encontro do dia 06/11

Oralidade, escrita e reflexão gramatical
Se refletirmos tudo o que temos estudado desde o início desse trabalho até então, percebemos que esse fascículo resume tudo o que pretendíamos abordar.
Ao desenvolver aspectos de oralidade e escrita, relacionando-os, abordamos várias questões como a leitura, interpretação e produção de textos, observações quanto a características de um texto, uso da linguagem e interação, o estudo dos gêneros e tipos textuais, a aplicação dos fatores de textualidade nas produções dos alunos e sua identificação nos textos lidos. Intensificamos a percepção dos fenômenos de variação e mudança linguística, principalmente na fala, mas também como podem influenciar na evolução da escrita. E por fim percebemos a importância de fazermos uma reflexão gramatical que parte da análise linguística e textual para depois abordar os aspectos gramaticais que influenciem o modo como os textos são lidos e compreendidos. Ficou mais claro também como orientar os alunos a aplicar os conhecimentos gramaticais na produção de textos mais claros, que apresentem todos os princpios de textualidade que os configurem como expressivos, atendendo ao seu principal objetivo: a comunicaçãopela linguagem.
Oralidade, escrita e reflexão gramatical são três eixos que sustentaram nossa reflexões, discussões, produções, planejamentos e troca de experiências durante todos esses meses de curso de alfabetização e linguagem. Temas que permearam todos os nossos encontros e que influenciaram nossa forma de pensar e repensar a prática pedagógica criando aulas mais dinâmicas e estimulantes, despertando o interesse tanto nosso quanto de nossos alunos para a observação de aspectos relevantes da língua que antes não dávamos tanta importãncia por desconhecê-los. Descobrimos novas abordagens para antigos temas e até novos temas para abordar. Enriquecemos nossas aulas e aguçamos nosso senso crítico e a vontade de continuar pesquisando, inovando e construindo conhecimentos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

22º Encontro do dia 30/10

Princípios de textualidade
Coesão - palavras que se conectam permitindo a organização textual.

Coerência - encadeamento de idéias.

Intencionalidade - foco da informação.

Aceitabilidade
- aceitação por parte do leitor.

Situacionalidade - pertinência/relevância do texto ao contexto.

Informatividade - equilibrar a quantidade de informações.

Intertextualidade
- um texto constrói-se em cima do já dito.
Esse encontro resume muito do que já estudamos sobre os aspectos relevantes para trabalharmos na construção de textos com nossos alunos. Observando sempre esses elementos em seus textos e levando-os a perceberem de que forma incorporamos esse aprendizado na refacção de nossos textos e nos constituímos cidadãos letrados produtores de textos competentes no que se refere à comunicatividade.
Texto elaborado no encontro a partir da leitura de cordéis:
Resposta da muié aos homi
Vejam só que desaforo
desses homi falando d'eu
eles pensam que são tudo
mas eu sou muito mais eu
eles falam das muié
mas escutem meu conseio
é mior ficar quietinho
ou então se oiá no espelho
Tem homem pequeno ignorante
que acha que é o tal
e tem homem mole, mas grande
que só tem cara de mal
tem muito homi pançudo
precisano trabalhar
vai pro bar e bebe tudo
vai pra casa só cochilar
Mas tem homi intiligente
que sabe cuidar do que é seu
cuida dos fio e da gente
e namora igual um Romeu
é romântico e carente
que nem o marido meu.
(Flávia, Patrícia e Valmir)

21º Encontro do dia 23/10

Retrato de sala de aula _ Fábulas

Segue abaixo um exemplo de plano de aula com atividades de leitura, interpretação e reconstrução textual, usando como texto base a fábula.

Objetivos: Ler, interpretar, identificar elementos narrativos, desenvolver a noção de sequëncia lógico-temporal em narrativas, com a prática da descrição e uso de adjetivos, do tempo verbal, da pontuação e a prática da encenação e do diálogo.

Material: Professora, alunos, textos fotocopiados, exercícios mimeografados, quadro-giz, folhas de papel branco e colorido, canetas e lápis coloridos, cola e tesoura.

Procedimentos:
*leitura silenciosa
*leitura oral
*interpretação oral
*interpretação por escrito
*divisão dos grupos para elaboração do texto encenado
*elaboração do cenário, caracterização dos personagens e ambiente, elaboração do texto para encenação oralmente, confecção dos personagens com desenhos ou dobraduras em papel colorido
*transcrição do texto elaborado incluindo a caracterização do cenário e dos personagens
*apresentações dos textos criados pelos grupos e entrega dos textos escritos para apreciação.

Avaliação: interesse dos alunos na participação do trabalho em grupo e habilidade de aplicar conhecimentos sistêmicos com o objetivo de melhorar o desempenho do grupo e a qualidade do trabalho final.

A barata e o rato
Era uma dessas baratinhas brancas e nojentas, acostumadas à só imundície e ao monturo, comendo calmamente sua refeição compostoa de um pedaço de batata podre e um pedaço de tomate podre(1). Chegou junto dela um Rato transmissor de peste bubônica e lhe disse: "Comadre, ontem tive uma aventura extraordinária. Estive num lugar realmente impressionante, como você, comadre, certo jamais encontrará em toda a sua vida." Barata comendo. "O lugar era uma coisa que realmente me deixou de boca aberta" - prosseguiu o Rato - "tão espantoso e tão diferente é de tudo que tenha visto em minha vida roedora"(2). Barata comendo. "Imagina você" - prosseguiu o Rato - "que descobri o lugar por acaso. Vou indo numa das cavidades subterrâneas por onde passeio sempre entrando aqui e ali numa casa e noutra, quando, de repente, percebo uma galeria que não conheço. Meto-me nela, um pouco amedronatado por não saberonde vai dar e de repente saio numa cozinha inacreditável. o chão, limpo, que nem espelho! Os espelhos, de um brilho de cegar! As panelas, polidas como você não pode imaginar! O fogão, que nem um brinco! As paredes sem uma mancha! O teto, claro e branco como se tivesse sido acabado de pintar! Os armários, tão arrumados e cuidados que estavam até perfumados! Poeira em nenhuma parte, umidade inexistente, no chão nem um palito de fósforo..."
E foi aí que a Barata não se conteve. levou a mão á boca num espasmo e preotestou: "Que mania! Que horror! sempre vem contar essas histórias exatamente no momento em que a gente está comendo!"
Moral: Para o vírus a penicilina é uma doença.
Submoral: A ecologia é muito relativa.
(1) Causando inveja a muita gente.
(2) O rato rói. É sua sina.
(FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Editora Nórdica, 1985)
Trabalhando o texto
1- Explique o significado das palavras encontradas no texto: monturo, peste bubõnica, espasmo, penicilina, sina.
2- O que a Barata estava fazendo quando foi abordada pelo Rato?
3- Quais eram as reações da Barata cada vez que o Rato falava? Comprove com trechos do texto.
4- Qual a razão das notas ao pé do texto?
5- Como o Rato descobriu o impressionante lugar?
6- Descreva a cozinha encontrada pelo Rato.
7- Por que o espanto do Rato ao ver a cozinha?
8- Qual foi a reação final da Barata? Por quê?
9- Explique: a) a moral b) a submoral
O texto
O texto humorístico de Millôr Fernandes nos fala sobre a relatividade da vida: o que para uns é lixo, para outros é higiene, ou seja, no caso dessa fábula há uma inversão dos valores do homem.
Fábulas são narrações alegóricas que envolvem a vida de animais e apresentam uma lição de moral. Note que Millôr fernandes inova esse conceito, criando uma submoral.

20º Encontro do dia 09/10

TIPOS DE INTERTEXTUALIDADE


EPÍGRAFE - escrita introdutória a outra.
CITAÇÃO - transcrição do texto alheio, marcado por aspas.
PARÁFRASE - reprodução do texto do outro com as palavras do autor.
PASTICHE - recorrência a um gênero.
TRADUÇÃO - recriação de um texto.
PARÓDIA - perverte o texto anterior, visando a ironia, ou a crítica.

Esse é um texto interessante que usa a intertextualidade como principal recurso:

Existem diferentes maneiras de contar a mesma história.

A do chapeuzinho vermelho, por exemplo, seria noticiada assim:

JORNAL NACIONAL

(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem... '.

(Fátima Bernardes): '... Mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.

PROGRAMA DA HEBE

(Hebe): '... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'

CIDADE ALERTA

(Datena): '... onde é que a gente vai parar... cadê as autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva...Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não. '

REVISTA VEJA

Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA

Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

REVISTA NOVA

Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO

Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seusalvador'.

Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO

Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO

Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente

ZERO HORA

Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

AQUI

Sangue e tragédia na casa da vovó!

REVISTA CARAS

(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte):

Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa'

PLAYBOY

(Ensaio fotográfico no mês seguinte)

Veja o que só o lobo viu.

REVISTA ISTO É

Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

G MAGAZINE

(Ensaio fotográfico com lenhador):

Lenhador mostra o machado!

SUPER INTERESSANTE

Lobo mau! Mito ou verdade?

DISCOVERY CHANNEL

Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

19º Encontro do dia 02/10

No processo de letramento, a intertextualidade é fundamental. Todo texto que lemos traz alguma referência a um texto anterior. Os textos constroem-se relacionados a outros textos e influenciando novos textos num ciclo interminável. E a percepção dos textos inseridos em um dado texto é a intertextualidade. Mostrar ao aluno essa inserção ou recorrência de um texto em outro pode levá-lo a:
* Perceber que ao produzir um texto, não só podemos, como devemos, recorrer a outros;
*Perceber que, quanto mais textos conhecemos, mais fáceis eles se tronam para interpretarmos, pois recorremos a conhecimentos adquiridos na leitura de outros textos;
* Perceber como os textos que tratam temas semelhantes se interligam trazendo novos significados, opiniões ou formas de se apresentar;
* Notar a intrínseca relação entre ler textos variados e produzir textos com mais elementos de coesão e coerência, além de vocabulário e argumentação mais apurados, ou melhor fundamentados;
* Ampliar o conhecimento de mundo e conseqüentemente a capacidade de reflexão e crítica da realidade à nossa volta;
* Notar que melhor se interpreta um texto quando conhecemos os intertextos nele presentes;
* Desmitificar a idéia de que para redigir, falar ou comunicar-se bem é preciso inspiração, quando na verdade precisamos conhecer vários tipos de textos, perceber como são feitos, para quem, porque, com que intenção, em que situações e, principalmente, que são resultado de muito trabalho de leitura, percepção, reflexão, criação, correção, treino e mais treino. Bons textos se formam no hábito de escrever, criar, recriando e conseguir se expressar.
Se o professor tiver isso em mente e conseguir selecionar bons textos e atividades envolventes, com certeza ampliará o nível de letramento dos alunos.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Fórum com as autoras Lucilia Garcez e Margarida Patriota

Às vezes nos perguntamos: “Como levar meu aluno a ler?” Como se essa fosse uma missão a ser cumprida. Pode ser. Mas como na Missão Impossível do filme protagonizado por Tom Cruise, há tantos obstáculos que a meta parece inatingível. Só para relembrar alguns: não há livros na casa de muitos alunos, o hábito da leitura não cultivado em casa, a biblioteca da escola (quando ainda existe) geralmente é mal equipada, TV e computador são ais atraentes, os alunos lêem mal por isso preferem atividades que exijam menos esforço mental. Pois é... mas para cada obstáculo existe uma estratégia específica e para cada aluno há uma maneira diferente de encarar a situação. Só para ilustrar o que estou tentando explicar, vou uma experiência pessoal. Eu sempre gostei de ler aquilo que QUERIA ler. Mas odiava ler por obrigação. Acho que quase todo mundo é assim. Quando eu estava na oitava série, meu professor de português exigiu de todos nós que lêssemos “Sagarana” de Guimarães Rosa para fazer um trabalho de análise da obra. Resultado: enrolei, enrolei e li somente algumas partes que me levaram a ter uma idéia geral da história e fiz meu trabalho baseado numa interpretação superficial do texto. Na parte da conclusão escrevi uma dura crítica á chatice do livro e ao fato de ter sido obrigada a lê-lo. O professor ficou visivelmente triste ao ler meu trabalho. E, embora discordando de mim, não falou mais no assunto até que surgiram os fatos que mudariam essa história. Naquele ano meu pai faleceu e minha mãe teve muitos problemas tentando manter uma propriedade rural pertencente à família. Por mais esforço que ela fizesse não havia sucesso e a chácara que, aos cuidados de meu pai era cercada de matas verdes, pomares, horta, plantações vistosas, pasto e muitos animais, estava se tornando um lugar feio, árido e sem vida. Naquele, o calor e a seca estavam destruindo tudo, inclusive os sonhos e esperanças de minha mãe. Quando o professor solicitou uma redação com tema livre, escrevi sobre as minhas impressões quando visitava aquele lugar. Fiz um texto chocante, emocionado, no qual eu comparava a morte súbita de meu pai à morte lenta e agonizante de nossos sonhos enquanto o córrego secava, as plantas perdiam as cores e os animais desapareciam. A natureza parecia corresponder, de maneira trágica à falta de meu pai naquelas redondezas. Eu consegui, aos treze anos, imprimir toda a minha emoção em um texto que impressionou o meu professor. Quando devolveu a redação corrigida, ele colocou um comentário mais ou menos assim: “Como pôde não gostar do Guimarães Rosa se você escreve com o mesmo estilo marcante dele?” Puxa! Fiquei surpresa! Ele me comparou ao escritor Guimarães Rosa!!! Fui lá e perguntei: “Professor, meu texto parece com que livro do Guimarães Rosa?” Ele disse “Vidas Secas” pronto! Fui atrás, li o livro em três dias e depois fui agradecer ao professor pela sensibilidade, o estímulo, a espera do momento certo para me corrigir. Viu?! Cada obstáculo uma estratégia e para cada aluno uma forma de agir.

18º Encontro do dia 18/09

Para levar meus alunos a lerem e interpretarem satisfatoriamente textos considerando os pressupostos e inferências é importante ter em mente as etapas de leitura a que se submetem:
1ª etapa: a decodificação. O primeiro ponto a observar é a decodificação do texto. Se o aluno identificar as palavras e frases com proficiência e perceber as informações explícitas do texto, ele já pode ser levado a tentar identificar o que há nas entrelinhas...
2ª etapa: as inferências. Nessa etapa, com atividades que questionem o que está implícito no texto, o aluno deve ser levado a perceber as informações que não estão escritas explicitamente no texto, mas que podem ser confirmadas por este. A essas informações chamamos inferências e o desempenho dos alunos ao identificá-las depende muito da capacidade de cada um em construir pressupostos enquanto lê. Isso pode ser facilitado com muitas atividades de leitura e reflexão em classe com textos de diversos tipos e gêneros, tratando também de assuntos variados, polêmicos e interessantes, que estimulem à reflexão. É importante também que o professor saiba criar perguntas que não se baseiem na cópia do que está no texto, mas que sejam confirmadas por este. Como resulatdo desa prática constante, ampliamos o conhecimento de mundo e tornamos o alno cada vez mais habilitado a partir para a próxima etapa da leitura...
3ª etapa: a avaliação. Somente após ter lido e compreendido muito bem o texto, o aluno é capaz de avaliar as informações obtidas. Será que o texto agradou o não? Por quê? O que aprendemos como lição? Concorda ou não? Por quê? Como poderia usar essas informações? Conseguiria escrever outro texto baseando-se no que leu? Essas e outras questões levam professor e alunos ao ciclo: leitura, interpretação, produção, tão desejado na escola. Mas esse é um trabalho diário, árduo, de muita persistência. A qualidade é percebida ao longo de meses e depende muito do bom planejamento e da prática constante.

sábado, 4 de outubro de 2008

17º Encontro do dia 18/09


O texto cômico é muito agradável, além de possibilitar ao aluno a interpretação por meio das gravuras...


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

16º Encontro do dia 11/09

Conclusão da análise do filme Desmundo, de Alain Fresnot:
Aspectos explícitos no filme:

família patriarcal, com total submissão da mulher ao marido;
desvalorização da mulher como pessoa, é tratada como objeto ou animal;
exploração da mão de obra escrava de indígenas e africanos;
uso da violência para impor a dominação do homem branco, tanto sobre os escravos como as mulheres;
presença de diversas culturas e linguagens;
exploração das riquezas locais;
ausência de higiene e saneamento básico;
Aspectos implícitos no filme:

o interesse do mercador em Oribela;
a tentativa, pelos portugueses, de impedir a miscigenação entre eles e os indígenas e garantir a pureza racial de seus descendentes;
o tratamento dado a esposas e escravos como moedas de troca;
o incesto entre Francisco e sua mãe;
a exclusão e tentativa de esconder a criança portadora de síndrome de down;
a dominação da Igreja catequizando a força as crianças indígenas;
a omissão dos membros da Igreja dos acontecimentos alheios a seus interesses;
os preconceitos de portugueses com relação aos outros povos;
o ciúme de Francisco com relação à sua esposa e seus demais “bens”.
Sugestões de atividades:
Para os alunos de ensino fundamental do 6º ano ao ensino médio, poderia ser apresentado como complemento para discussões sobre as origens da nossa língua, bem como aspectos sociais da nossa composição étnica, social, cultural e lingüística, o contexto da época e as transformações que a sociedade sofreu desde então. O filme poderia gerar debates, dramatizações e exposições a respeito desses temas estimulando, inclusive, a interdisciplinaridade.

Impressões sobre a Feira do Livro em Brasília no dia 02/09

Participar da Feira do Livro é uma atividade inerente ao professor, já que precisamos estar atualizados quanto ao que se tem produzido de livros nesse país e que estão sendo colocados no mercado para nossos alunos lerem. Confesso que fiquei muito desapontada esse ano com os lançamentos recentes para o público infantil e infanto-juvenil. A maioria das histórias novas que vi são pobres, com temas repetitivos e pouco cuidado na edição. Isso levou-me a querer pesquisar mais sobre os autores que estão despontando nesses últimos anos para tentar descobrir quem são os novos talentos merecedores de apreciação. Amo livros de capa dura com letras brilhantes no título. Lembro-me de ter visto uma vez um livro de Monteiro Lobato assim. Na Feira encontrei uma nova edição do mesmo livro Reinações de Narizinho mais fino e com folhas moles e fiquei tão decepcionada porque imaginei que os editores estão tentando tornar o livro mais barato , talvez para ser mais acessível, porém de nada adianta pois quem não quer ler Monteiro Lobato num livro grosso de capa dura e letras brilhantes também não leria uma edição resumida de folhas simples e molengas... mas essa é uma outra história... O fato é que para mim houve pouquíssimas novidades e as que encontrei nem foram assim tão atraentes. Penso que está mesmo havendo uma mudança muito grande em toda a sociedade com relação ao uso do livro e as editoras e livrarias estão tentando se adaptar de qualquer forma a esse novo perfil de leitor, o leitor fujão, tolo que engana a si mesmo. Infelizmente esse é o perfil da maioria das pessoas que acham que são leitores e que vão a uma feira do Livro apenas para parecerem cultas, quando na verdade, estão enganando a si mesmas.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Para pensar a nomenclatura da gramática

Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa. Leiam até o final, é muito legal! Infelizmente, onde pesquisei não consegui descobrir o nome da autora. Se alguém souber, me informe, por favor, não faço plágio do trabalho alheio...

Redação:

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

sábado, 23 de agosto de 2008

15º Encontro do dia 21/08

Reflexão sobre o filme Desmundo, de Alain Fresnot:

O filme se passa em 1570 e retrata a sociedade portuguesa que habitava no Brasil da época, mostrando, entre outros aspectos a exploração sexual e do trabalho escravo de indígenas, negros e mulheres, além da total marginalização destas em submissão aos desejos masculinos. Trata também das relações comerciais inescrupulosas entre os membros da igreja e os senhores de terras na roca de favores e 'bens' como escravos e esposas.
As informações sobre a história do Brasil são a total falta de escrúpulos da sociedade da época, na qual os homens brancos impunham sua vontade à força e exploravam como bem entendiam o trabalho daqueles que não tinham condições de se defender (no caso, os indígenas, os negros e as mulheres órfãs).
Os personagens utilizam formas linguísticas muito peculiares, típicas do seu país, Portugal. Percebe-se muito claramente a tentativa de indígenas e africanos de continuar se comunicando em sua língua de origem. Quanto ao português lusitano, nota-se como principais traços o uso do pronome e do verbo em segunda pessoa, uso da ênclise e mesóclise na colocação pronominal, hoje tão raros na nossa comunicação, além de vários termos do léxico que também já caíram em desuso.
A diferença entre as formas linguísticas usadas no filme e a nossa língua portuguesa de hoje é tão grande que há dificuldade em compreender várias cenas por causa do vocabulário usado. Isso se deve, certamente, ao fato de ter sofrido inúmeras modificações ao longo de mais de quatrocentos anos em nosso país, além de adaptações e influências de outras línguas, principalmente indígenas, africanas, árabe e, mais recentemente inglês. Quase não é possível uma compreensão da linguagem usada no filme sem recorrer a outros recursos da fala, como a imagem, expressão facial e corporal, entonação e o contexto enfim.
A história da língua portuguesa é relevante para nossos alunos, pois possibilita compreender alguns aspectos da enorme diferença entre língua escrita e língua falada. Entender, por exemplo, que a norma padrão nos parece tão estranha porque se baseia na estrutura da língua de origem, o português lusitano, que utiliza várias formas por nós já abolidas na fala do cotidiano. Entender que a norma padrão demora muito tempo para se adaptar às modificações rápidas que ocorrem na língua falada, por issonão leva em consideração aquilo que não pode acompanhar, que são as variantes linguísticas, tão influenciadas pela região, idade, classe social, manifestações culturais e outros aspectos. A norma padrão não pode e nem deve mesmo abarcar todas essas variantes, senão não seria padrão. A norma padrão é assim mesmo: restrita, elitista, excludente; no entanto necessária. Nem mais nem menos importante que as variantes linguísticas, apenas mais uma forma de comunicação na língua que deve ser ensinada na escola. Algo que todo aluno tem o direito (não o dever, a imposição) de saber para se apropriar dela quando achar necessário. Conhecer essa história da língua é mais uma ferramenta para compreender os usos e possibilidades da linguagem e descobrir-se como agente desse processo de transformação contínua ao qual a língua está exposta.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

14º Encontro do dia 14/08

Ortografia


A conservação das línguas, através dos tempos, deve-se à escrita. A escrita é uma representação da linguagem oral, e sua finalidade é a leitura. Ela é apenas uma das formas de se usar a linguagem, mas, apesar disso, tem um valor to grande nas sociedades que as pessoas acabam invertendo a situação: achamos que a escrita é que comanda a fala, quando ocorre justamente o contrário. A grafia das palavras é uma representação imperfeita da linguagem falada. Enquanto a fala é muito dinâmica (evolui rapidamente) e possui outros recursos além das palavras (como os gestos, a altura, a entoação e a modulação de voz), a escrita conta apenas com algumas poucas letras, os acentos e os sinais de pontuação. Como o objetivo da escrita é a leitura, ela precisa ser resistente às mudanças. Surge, então, a ortografia, cuja função é “congelar” a forma como as palavras são escritas para que elas possam atravessar os séculos. Outra função da ortografia é resistir à variação lingüística de modo que um texto em português, por exemplo, possa ser lido de Norte a Sul do Brasil.
Por ter que seguir, obrigatoriamente, uma única forma, muitas dúvidas surgem em relação à ortografia, ou seja, escrita correta das palavras. De modo geral, as letras que mais causam problemas para quem vai escrever um texto são aquelas que envolvem duas ou mais alternativas para representar um mesmo som.
E para não errar a escrita, não basta conhecer as regras de ortografia, pois elas não explicam todas as situações em que as letras devem ou não ser utilizadas. Então, o que fazer?

Dicas para melhorar a ortografia

*A primeira dica (e mais importante) é adquirir o hábito da leitura. As pessoas que lêem bastante têm menos dificuldades para redigir um texto (e conseqüentemente, menos dificuldades com a ortografia). As dificuldades com a ortografia diminuem à medida que o usuário da língua vai se tornando um leitor mais experiente e vai lendo cada vez mais. A leitura é um exercício para o cérebro como o esporte é para o corpo. A diferença é que a leitura treina a atenção, a memorização, e a organização das idéias. Por isso ajuda tanto na hora da escrita. Além do mais, cada vez que você tiver que escrever uma palavra que já leu várias vezes, vai se lembrar da grafia correta.

*A segunda dica é praticar o treino ortográfico.Nunca fique na dúvida, pergunte. È preciso ser menos intolerante com os erros de ortografia. Só assim as pessoas ficarão mais à vontade para perguntar no momento que tiverem dúvidas, sem se sentirem culpadas de não saberem ou envergonhadas com as piadinhas que os outros possam fazer. Ao descobrir a escrita correta da palavra, olhe atentamente para ela. Depois, de olhos fechados, tente “ver mentalmente” a palavra. Em seguida, escreva-a e confira. Se você acertar, pode treinar a escrita mais duas ou três vezes. Se errar, repita todo o processo novamente. Após treinar uma palavra, procure empregá-la sempre que houver oportunidade, pois assim você estará reforçando a sua permanência na memória. Também vale a pena pedir a alguém para fazer ditados e assim você vais descobrindo seus erros, corrigindo e treinando a escrita correta pois, como você deve ter notado, escrever corretamente requer treino e força de vontade.

* Há momentos em que acertar na ortografia é difícil até para aqueles que têm muita prática na escrita. Nessas horas a dica é consultar um bom dicionário. Para isso, você primeiro escreve num papel as formas entre as quais está em dúvida (ex: úmido ou húmido). Depois procura essas formas no dicionário. Com certeza, uma delas estará lá. O dicionário seleciona e organiza as palavras em ordem alfabética. Um bom dicionário sempre apresenta um índice das abreviaturas empregadas nos verbetes. Geralmente, aparece nas primeiras páginas e serve para consulta sobre classe gramatical, gênero, etimologia,etc.
Detalhes importantes para consultar um dicionário:
* as palavras que apresentam flexões estão sempre no singular, no grau normal e no masculino;
* os verbos aparecem sempre no infinitivo, isto é, não são conjugados;
* normalmente, os dicionários indicam a classe gramatical da palavra: substantivo, adjetivo, pronome, verbo, etc.

*Nem só de dificuldades é feita a ortografia. As palavras se parecem entre si. E essas semelhanças nos ajudam a entender o funcionamento do sistema ortográfico, porque é através delas que podemos formular algumas regras ortográficas. As regras vão sendo “internalizadas” à medida que você vai se tornando um produtor de textos mais experiente. Ou seja, chega um tempo em que você não precisa pensar muito antes de escrever, e a forma correta surge intuitivamente de sua caneta... Você percebe, aos poucos, que as palavras treinadas multiplicam-se por 5, 10 ou mais vocábulos novos cuja ortografia passará também a dominar. Mas cuidado! Essas regras não são capazes de esgotar o assunto, deixando muitas lacunas que você deverá preencher ao longo de sua vivência lingüística.


1 – Palavras derivadas de outras geralmente seguem suas regularidades ortográficas. Observe:
* pressa apressar depressa apressado
* tecer tecido tecelão tecelagem
* dança dançar dançante dançarino
* manso amansar remanso mansidão
* pesquisar pesquisa pesquisador
* deslizar deslize deslizante


2 – Uma palavra formada de outra só muda as letras quando há mudança de som ou mesmo um impedimento ortográfico. Veja:
* obrigar obriguei
* agir ajo
* aborrecer aborreço


3 – Existem palavras homônimas, que possuem a mesma pronúncia, mas com grafia e significado diferentes. Nesses casos recorra ao dicionário, sempre que preciso, até memorizá-las. Veja:
* mau = adjetivo mal = substantivo
* seção = divisão, setor sessão = tempo de um evento
* sinto = verbo sentir cinto = acessório
* cumprimento = saudação comprimento = medida, tamanho
* caçar = procurar, abater cassar = anular o mandato parlamentar
* acento = sinal gráfico assento = lugar para sentar


4 – Existem palavras parônimas, que são muito parecidas, mas a troca de uma letra muda completamente o significado. Nesses casos também devemos consultar o dicionário. Observe:
* suar = expelir suor soar = emitir som
* mexa = verbo mexer mecha = fios de cabelo
* xeque = jogada do xadrez cheque = ordem de pagamento bancário
* viajem = verbo viajar viagem = substantivo
* traz = verbo trazer trás = parte posterior


5 – Nos dígrafos nasais, usamos ‘m’ se a próxima letra for ‘p’ ou ‘b’. Nas demais usamos ‘n’. Veja alguns exemplos:
* campo pomba tombo tempo impedir assombro
* talento arranjo manga onde infinito diferença


6 – Sempre usamos ‘u’ no final dos verbos no passado. E geralmente usamos ‘l’ após ‘a’, ‘e’ ou ‘o’ abertos e sem acento, no final das palavras. Veja alguns exemplos:
* fugiu cantou aprendeu partiu falou sofreu
* anzol anel varal barril caracol milharal


7 – Cuidado com a letra ‘x’. Ela pode ter vários sons. Portanto, ao escrever palavras com esses sons, consulte o dicionário. Veja só:
* som de ‘s’ – texto, exportação, extraordinário, explicar, máximo, próximo, auxílio
* som de ‘z’ – exemplo, exercício, exigente, exame, examinador
* som de ‘ch’ – caixa, bexiga, peixe, queixo, mexerica, xícara
* som de ‘ks’ – táxi, saxofone, anexo, fax, sexo, reflexo, reflexão
* som de ‘s’ (junto com o c) – excelente, exceto, excitar, excesso, excepcional


8 – Nos casos de dúvida entre o uso de ‘x’ ou ‘ch’ existem algumas dicas que podem ajudar.
* usamos ‘x’ depois de ditongo: caixa, ameixa, feixe (exceto em recauchutar, recauchutagem)
* usamos ‘x’ depois de ‘en’ inicial, quando não for derivado de palavras com ‘ch’: enxada, enxame, enxerido, enxergar, enxuto, enxaguar
* usamos ‘x’ depois de ‘me’ inicial ( com exceção de ‘mecha’ e seus derivados): mexerica, mexer, mexido, mexerico, mexicano, mexilhão
* usamos ‘ch’ nas palavras terminadas em ‘acho’, ‘achão’, ‘icho’ e ‘ucho’: cambalacho, bonachão, rabicho, cartucho, carrapicho, macho, comichão
* usamos ‘ch’ depois de ‘n’: concha, gancho, anchova, mancha, inchado
* usamos ‘ch’ nos derivados de palavras que já contenham ‘ch’: aconchegar (chegar), enchente (cheio), encharcar (charco), pichar (piche).


9 - Se tiver dúvidas para usar ‘g’ ou ‘j’ lembre-se que essas letras só representam o mesmo fonema quando usadas antes de ‘e’ ou ‘i’ ( je, ji, ge, gi). Diante de ‘a’, ‘o’ ‘u’ os sons são diferentes (ga, go, gu / ja, jo,ju). Eis algumas orientações para facilitar a ortografia nesses casos:
* usamos ‘g’ nas palavras terminadas em ‘agem’, ‘igem’, ‘ugem’: coragem, garagem, fuligem, ferrugem ( com exceção de ‘pajem’ e ‘lambujem’)
* usamos ‘g’ nas palavras terminadas em ‘ágio’, ‘égio’, ‘ígio’, ‘ógio’, ‘úgio’: pedágio, colégio, prestígio, relógio, refúgio
* usamos ‘g’ nos verbos terminados em ‘ger’, ‘gir’: eleger, agir, fugir, reagir, corrigir
* usamos ‘j’ nas terminações ‘aje’: laje, ultraje
* usamos ‘j’ nos derivados de palavras com ‘j’: laranjeira (laranja), lojista (loja), lisonjeiro (lisonja)
* usamos ‘j’ nos verbos terminados em ‘jar’ e seus derivados: desejo, desejar
* usamos ‘j’ em palavras de origem africana e indígena: pajé, jequitibá, Moji, jenipapo.


10 – Quando for usar ‘s’ ou ‘z’, ambos com som de ‘z’, vale consultar o dicionário ou, em alguns casos, lembrar umas regrinhas que podem auxiliar:
* usa-se o ‘s’ em adjetivos terminados em ‘oso’, ‘isa’, ‘osa’: gostoso, saborosa, cheirosa, majestosa, poetisa, sacerdotisa
* usa-se ‘s’ nos sufixos ‘ês’, ‘esa’, que indicam título ou origem como: português, francês, marquês, inglesa, escocesa, baronesa
* usamos ‘s’ nas formas dos verbos ‘pôr’ e ‘querer’ e seus derivados: quiser, puser, quisesse, pusesse, quis, pus
* usamos ‘s’ em geral depois de ditongos: maisena, pousar, paisagem, coisa
* usamos ‘s’ nos diminutivos de palavras escritas com s: Luisinho (Luis), coisinha (coisa), paisinho (país), lapisinho, camponesinho (camponês)
* usamos ‘z’ em palavras terminadas em ‘ez’, ‘eza’ quando os substantivos derivam de adjetivos: nobreza (nobre), beleza (belo), riqueza (rico), rapidez (rápido), maciez (macio), surdez (surdo)
* usamos ‘z’ em palavras terminadas em ‘izar’ quando a palavra de origem não tem s: realizar (real), economizar (economia), uniformizar (uniforme), hospitalizar (hospital), utilizar (útil)
* usamos ‘z’ em palavras que terminam em ‘triz’: matriz, atriz, imperatriz, embaixatriz.


11 – Existem algumas palavras que, por causa de sua língua de origem, são escritas com ‘h’ inicial. Cuidado com elas! Dica: seus derivados também são escritos com ‘h’:
* horta, humano, horror, hora, hormônio, hoje, habitação, hábito, harmonia, haver, hematoma, hepatite, herdeiro, herói, hidratar, higiene, hipertensão, honesto, honra, horizonte, humor, hospital


12 – As letras ‘e’ e ‘i’ provocam confusão principalmente ao escrever verbos, por isso observe as orientações:
*quando o verbo terminar em ‘aor’ ou ‘uar’, escrevemos suas formas com e: abençoe (abençoar), perdoe (perdoar), atue (atuar) continue (continuar)
* quando o verbo terminar em ‘air’, ‘oer’, ‘uir’, escrevemos algumas de suas formas com i: cai (cair), sai (sair), dói (doer), mói (moer), rói (roer),atribui (atribuir), distribui (distribuir), possui (possuir).
Em alguns casos a oposição entre ‘e’ e ‘i’ cria significados diferentes:
arrear – pôr arreios emergir – vir à tona, sair da água
arriar – abaixar, desistir imergir - mergulhar
delatar – denunciar emigrar – sir do país ou de sua região natal
dilatar – alargar, aumentar imigrar – entrar em país estrangeiro
descrição – ação de descrever eminente - importante
discrição – qualidade da pessoa discreta iminente – próximo, prestes a acontecer
descriminar – absolver de um crime
discriminar – separar, estabelecer diferença


13 – Existem ainda algumas palavras que possuem sons parecidos, mas, para elas não vamos estabelecer regras, apenas observe os exemplos a seguir:
‘ei’ – cabeleireiro, beira, madeireira, ameixa, pandeiro, manteiga, jornaleiro
‘e’ ou ‘i’ – periquito, empurrão, pepino, esvaziar, emprego, esvaziar
‘li’ ou ‘lh’ – família, mobília, utensílio, sandália, cílios, baunilha, cartilha, chocalho, assoalho
‘ç’ ou ‘ss’ – tradução, invenção, manutenção, discussão, sucessão, regressão, opressão
‘o’, ‘u’ ou ‘ou’ – ourives, matadouro, couro, crioulo, cotovelo, polir,esgoelar, bueiro, escapulir

ORTOGRAFIA –Sugestões de atividades

As atividades podem ser mimeografas, xerocadas ou digitadas e distribuídas aos alunos. Na falta desses recursos, colocar na lousa. Os alunos poderão pintar os desenhos sugeridos.

O x tem 5 sons diferentes. Distribua as palavras abaixo em colunas de acordo com o som:
pirex - crucifixo - auxiliar - xarope - exame - tórax - exclamações - peixe - durex - boxe- trouxe - xícara - lixo - excursão - táxi - exército - máximo - próximo - peixaria - Alexandre - sexta-feira - explosão.

Sugestões -
1- Colocar na folha cinco balões bem grandes e escrever no alto de cada , um dos sons que a letra x pode ter: ch - s - ss - z - ks . O aluno deverá agrupar as palavras no balão de acordo com o som.
2- Fazer 5 colunas e escrever no alto de cada , um dos sons que a letra x pode ter: ch-s-ss-z e ks. O aluno deverá colocar em cada coluna as palavras de acordo com o som.

Sugestão - Desenhar na folha duas escadas com 7 degraus cada uma, colocando sobre uma a letra G e sobre a outra, a letra J. Os degraus deverão ser largos e compridos, pois em cada um vai ser escrita uma palavra. O desenho poderá ser feito na lousa para que o aluno o copie em seu caderno.

Atividade

Complete as palavras com G ou J e depois as coloque nas escadas correspondentes:
1- _____ente
2- via_____ar
3- ma_____estade
4- ve_____etais
5- rea_____iu
6- _____eito
7- su_____eito
8- re_____ião
9- su_____eira
10- a via_____em
11- _____eléia
12- in_____eção
13- estran_____eiro
14- tra_____e

Sugestão - Desenhar um coelho bem grande e ao seu lado, um ovo de Páscoa bem grande, de modo que caibam 7 linhas no interior de cada desenho. Em cada linha vai ser escrita uma palavra.
Atividade

Coloque as palavras com X dentro do coelhinho e as com Ch dentro do ovo de Páscoa.
1- en_____ergar
2- _____efe
3- _____eiro
4- _____ícara
5- _____u_____u
6- _____ereta
7- _____eia
8- dei_____ava
9- co_____i_____o
10- _____ave
11- _____arope
12- abaca_____i
13- ria_____o
14- fai_____a

S ou Z ?
1- belo - bele_____a
2- princesa - prince_____inha
3- triste - triste_____a
4- rico - rique_____a
5- casa - ca_____inha
6- inglês - ingle_____a
7- pobre - pobre_____a
8- flor - flor_____inha
9- asa - a_____inha
10- português - portugue_____a
11- animal - animal_____inho
12- brasa - bra_____inha
13- chinês - chine_____a
14- japonês - japone_____a

Sugestão - Desenhar um casa bem grande com telhado, uma porta e uma janela grandes. Fazer umas 6 linhas em cada uma dessas três partes da casa.

Atividade

Colocar as palavras com C no telhado, as com Ç na porta e as com SS na janela da casa.
1- a_____etinar
2- in____entivo
3- alma_____o
4- alcan_____e
5- a_____ude
6- a_____essor
7- ne_____essário
8- a_____ucena
9- ca_____ula
10- Sui_____a
11- in_____erto
12- so_____ego

U ou O ?
1- cap____eira
2- b_____eiro
3- mág_____a
4- ch_____visco
5- p______leiro
6- p_____lenta
7- tab_____ada
8- táb_____a
9- t_____ssir
10- eng_____lir
11- f_____cinho
12- jab____ticaba

Sugestão - Desenhar um cachorro e uma tartaruga bem grande na folha. Colocar linhas no corpo de cada um, escrever no alto da cabeça do cachorro - O - e no alto da cabeça da tartaruga - U - , para que os alunos escrevem as palavras com o n cachorro e com u na tartaruga.

S,Z ou X ? ( som de [z])

1- e_____ato 2- certe_____a
3- va_____o 4- va_____io
5- ve_____es 6- qui____er
7- e_____agero 8- ê____ito
9- arra_____ar 10- ami____ade
11-e____igência 12- e_____ibir
13- mole___a 14- pe____o
15- e___ílio 16- co____inha
17- bri___a 18- li___o

Sugestão - Desenhar na folha 3 balões bem grandes, colocar linhas dentro. Embaixo do primeiro escrever - S - , do segundo - Z- e do terceiro - X- , para que o aluno coloque dentro do balão , as palavras preenchidas corretamente.

X ou XC ?

Sugestão - Desenhar um trenzinho com dois vagões. Dentro de cada um, colocar seis linhas. Em cima do primeiro vagão escrever - X - e do segundo, - XC-, para que o aluno coloque neles as palavras preenchidas corretamente.

Atividade

Coloque X ou XC nas palavras:
1- má_____imo
2- e___esso
3- e____edente
4- trou____e
5- au_____ílio
6- e_____eção
7- e_____elente
8- pró_____ima
9- apro____imação
10- e____edia
11- pro____imidade
12- e____epcional

Loteria Ortográfica

Sugestão - Numa folha, traçar uma cartela de loteria com três colunas verticais e treze linhas horizontais. No alto da primeira coluna , escrever - SS - , da segunda, - Ç - e da terceira, - S - . Do lado direito das colunas , do lado de fora, escrever em cada linha horizontal, as palavras que se seguirão abaixo. O aluno deverá marcar com um X a alternativa correta, na coluna correspondente.
1- pa_____agem
2- ân_____sia
3- al_____a
4- pri____ão
5- alma_____o
6- a_____úcar
7- a_____ude
8- preten____ão
9- ma______agista
10- so_____ego
11- ca_____ula
12- dor____o
13- dan___arino

Mini-loteria Ortográfica

Sugestão - Traçar uma cartela de loteria como na atividade anterior, mas com apenas duas colunas. No alto da primeira escrever - J- e da segunda, - G-.
1- ____íria
2- ori____em
3- pro_____eto
4- desa_____eitado
5- ____elatina
6- en____ôo
7- laran____eira
8- re_____ime
9- ____urado
10- mar_____em
11- tra____eto
12- frá____il
13- sar_____ento

13º Encontro do dia 07/08




Ortografia é a escrita correta das palavras e deve ser ensinada para que o aluno compreenda e utilize as estratégias de adequação ,na escrita, da norma. Essa norma é necessária para que a escrita tenha uma forma unificada, facilitando assim a identificação das palavras, sua compreensão e portanto, a comunicação.




Os alunos cometem muitos erros de grafia por vários motivos, entre os principais:




* acreditam que escrita é correspondente aos sons da fala, desconsiderando que muitas letras podem tem vários sons e que muitos sons podem ser representaods por letras diferentes;


* não se preocupam em pesquisar quando têm dúvidas quanto ao uso de uma ou outra letra;


* não mantém hábito de leitura que elimina muitas dúvidas recorrendo à memória visual da palavra escrita (já vista várias vezes antes);




Algumas das melhores estratégias didáticas para ensinar ortografia são:




* desafios com jogos ortográficos (cruzadinhas, caça-palavras, preencher lacunas, loteria ortográfica, forca, completar frases ou textos com determinado grupo de letras etc);


* auto ditado (que o aluno escreve as palavras olhando as gravuras);


* ditado mudo (que o professor mostra o objeto e o aluno só escreve o nome);


* exercícios dirigidos (exercícios escritos envolvendo dificuldades ortográficas);


* redações com auto correção ou código de correção (a ortografia, nesse caso, é apenas mais um item a ser observado pelo aluno ao fazer a auto correção), um ótimo exemplo disso é o projeto Olho vivo, da colega Giselle, que consiste em dar a redação para um colega marcar a lápis onde estão os erros que o autor deve observar melhor e corrigir;


* banco de palavras ( cada aluno faz uma espécie de caderninho, onde anota todas as palavras que vai descobrindo ou corrigindo ao longo do ano letivo, e consulta cada vez que precisa usar novamente alguma delas, como um dicionário ortográfico);


* código das carinhas ( o professor faz um código das carinhas alegre e triste, alegre quando o aluno escreve toda a frase corretamente e triste quando erra alguma palavra, quando aparece a carinha triste o aluno deve pesquisar qual a palavra errada e como seria escrita corretamente);


* palavra intrusa (cada aluno deve procura no grupo de apalvras qual e a intrusa e porquê, exemplo: casa, fazer, exame, sofá - a palavra é sofá porque não tem o som de "Z");


* as 'pérolas' das redações ( o professor escreve no quadro os principais erros ortográficos ocorridos nas redações da semana, sem citar os autores, é claro. Os alunos discutem e corrigem os erros sem se expôr).




Na escola é comum as pessoas acharem que o ensino de língua portuguesa como norma padrão é como o ensino de uma segunda língua, devido a discrepância entre a língua falada no cotidiano e a lígua padrão. Discordo plenamente e como professora de língua portuguesa e inglesa posso afirmar que ensinar a língua portuguesa é árduo, sim. É diferente sim, e muito. Mas depende mesmo é do preparo do professor em saber conduzir o estudo da linguagem. O problema não é ensinar ou não gramática e sim como ensinar. A gramática estuda particularidades da língua que podem ajudar o aluno a aperfeiçoar sua capacidade de comunicação, interpretação e uso da língua. É claro que o professor deve pesquisar muito para fazer um trabalho que se apóie não só nos estudos gramaticais, mas também nos estudos linguísticos. Ou seja, o professor deve se preparar muito mais para interagir com o aluno ampliando as compatências interacional e gramatical desse no contexto da sala de aula e também em quaisquer outros que ele venha participar. Ensinar língua é isso mesmo. Valorizar o que o aluno traz, mostrar a ele que toda variação é importante para a comunicação, inclusive o que a gramática descreve (que não precisa ser decorado, mas compreendido), e como se adequar a qualquer situação comunicativa que o uso da língua possa exigir.


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

12º Encontro do dia 31/07

Como eu já escrevi antes sobre os tipos e gêneros textuais, hoje só vou me ater a breves explanações antes de expor meus textos escolhidos para a atividade dos poemas enlatados.
Os tipos textuais fundam-se em critérios internos linguísticos e formais, têm previsão na escolha do léxico, base na estruturação linguística, número restrito e são estáticos. São estes:
.
-narração - sequência de fatos
-descrição - sequência de localização
- exposição - sequências analíticas
- argumentação - sequências contrastivas explícitas
- injunção - sequências imperativas
.
Os gêneros fundam-se em critérios externos sócio-comunicativos e discursivos, são orientados para um fim específico, têm formato estável, histórico e número bastante amplo. São alguns dos principais exemplos:
.
carta pessoal, bilhete, receitas culinárias, bulas de medicamentos, lista telefônica, piada, lista de compras, e-mail, horóscopo, história em quadrinhos, manual de instrução, poemas, prefácio, classificados, notícias, intimação, boletim de ocorrência, atas, relatórios, dicionários, entrevistas...
.
Meus poemas enlatados:
.
.
Amor Bastante
.
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
(Paulo Leminski)
.
.
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
(Paulo Leminski)
.
.
"PRECISA-SE"
.
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
(Clarice Lispector)
.
.
Presença
.
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
(Mario Quintana)
.
.
O teu riso
.
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por verque a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros soltao teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
(Pablo Neruda)
.
.
Ausência
.
Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei ... tu irás e encostarás
a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei sócomo os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
(Vinicius de Moraes)
.
.
Reconhecimento do Amor
.
...Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.
(Carlos Drummond de Andrade)
.
.

Ser poeta
.
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
(Florbela Espanca)
.
.
O Artista Inconfessável
.
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre o fazer e não fazer mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer que é inútil:
nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo que ele é inútil,
e bem sabendo que é inútil e que seu sentido não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil do que não fazer,
e dificilmente se poderá dizer com mais desdém,
ou então dizer mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
(João Cabral de Melo Neto)
.
.
Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
(Fernando Pessoa)
.

11º Encontro do dia 03/07

O gênero poeisa pode assumir muitas facetas e abrigar outros gêneros. É assim que ocorrem os gêneros híbridos. Como é interessante apresentá-los aos alunos! Alguns textos para o trabalho sobre gêneros e tipos textuais:


Em seu livro "Classificados Poéticos" Roseana Murray faz alguns anúncios poéticos, leia as poesias e veja as ofertas.

Colecionador


Colecionadorde cheiros troca
um cheiro de cidade
por um cheiro de neblina
um cheiro de gasolina
por um cheiro de chuva fina
um cheiro de cimento
por um cheiro de orvalho no vento.

Equilibrista

Procura-se um equilibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do diaq
ue saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo o dia.

Agora é a sua vez.
O que você teria para trocar? O que está procurando? Faça seus anúncios!

Troca-se!
Troco uma bicicleta por ________
Troco um pássaro na gaiola por _________
Troco um gato manhoso por____________
Troco__________ por uma festa animada.
Troco __________ por um prato de batatas fritas.
Troco__________ por ______________
Troco __________por ______________

Procura-se!
Procuro um vizinho que _____________
Procuro uma cozinheira que ______________
Procuro um amigo que ______________
Procuro ___________que _____________
Procuro ___________que _____________

Veja só as paródias desses alunos usando os textos da Roseana Murray como modelo:

Classificados Poéticos

Vende-se um apartamento encantado,
No centro daquela cidade
Tem dois lindos sabões
Para pessoas de qualquer idade.

Tem uma bela lareira,
No canto da sala
Para você se esquentar
Em dias de geada.

Se você tiver interessado
Venha logo para cá,
Não demore, meu amigo
Pois sem apartamento vai ficar.
(Jean Carlos da Costa – 3ª série)

Classificados Poéticos


Vende–se uma taça encantada
Cheia de alegria
Que para quem está
Precisando é uma ótima
Companhia.

Vende-se um coração velho
Mas que um dia já foi jovem,
Alegre feliz contente e com
Muito talento
Quem quiser verá que
Ainda existe muito conhecimento

Precisa-se de uma criança
Inocente, que mostre ao
Mundo o caminho da
Felicidade, paz, e da verdade
E que ilumine a todos
Com sua inocência fazendo- nos
Por a mão na consciência...
(Rafaela Soares Ribeiro – 3ª série)

Classificados Poéticos


Troco uma Belina vermelha
Por um jegue cor de ovelha
Quero que ele me leve para o infinito
E que galope a Deus dará
Pois já me cansei deste engarrafamento.

Compra-se um fusca importado.
Vende-se um carro roubado,
Fazemos todos os tipos de negócio.
Cada venda um novo sócio.
E cada sócio, um novo problema.
Tem bicicleta de todas as cores também
Vendemos flores.
Alecrim, rosas, violeta.
E também temos flores pretas.

Vende-se uma casa de dois pisos que o
Chão é todo liso e leva junto de brinde
Um grupo de amigos.

Vende-se na loja do tio João arroz, feijão,
Batata e macarrão, mas ele também troca
Tudo isso por um grande e belo avião.

Troco um boi pintado
Por um burro peçonhento
Um burro que seja lento
Mas que seja orientado
E que no seu trote
Não me quebre o cangote...
(Jaqueline Savoldi, Lucas Robaert, Vitor Casagrande, Wesley dos Santos – 3ª série)

Classificados Poéticos


Vende-se uma chácara encantada na beira de um lago
Tem duas áreas de lazer nas quais tem churrasqueiras e piscinas.
Até parece um reino Encantado.
Há! Uma trilha que é uma beleza
Onde você poderá conhecer os encantos da natureza.

Precisa-se de atletas para a taça La Salle
Que sejam alegres e dispostos, isso tudo vale.
O prêmio será um troféu em forma de véu.
E a torcida em coro cantava: Vale! Vale! La Salle!

Precisa-se de 11 jogadores
Para formar um time de futebol
Todos são trabalhadores
E também gostam de jogar handbol.

Vendem-se duas plantas encantadas
Com um jardim muito bonito
As mulheres ficam impressionadas
E os homens dando risada.

Procuram-se meninos e meninas
Para fazer várias equipes
Os meninos jogam com azul
E as meninas com rosa -pinque.
(Maiara Weirich, Willian Rodrigues – 3ª série)

A Carta

Exaltasamba

Não existem mais palavras

Que eu possa escrever
Pra falar de tanto amor
Entenda por favor
Que uma carta é muito pouco
Para revelar o retrato da tristeza
E a cicatriz da saudade
Que você deixou no meu peito
Tatuagem de amor, não tem jeito
Nunca vai sair de mim esta dor
Entenda o que eu vou te dizer
(Dois pontos)
Vem de volta pro meu coração
(Exclamação)
Não posso viver sem você
Não tenho razão nem porquê
Me acostumar com a saudade
Nem vírgula vai separar
Nessa oração
Teu nome da minha paixão
Não leve a mal
Eu sei que não sou escritor
É só uma carta de amor
De alguém que te quer de verdade

A carta
Legião Urbana

Escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor

Porque veio a saudade visitar meu coração
Espero que desculpes os meus erros por favor
Nas frases desta carta que é uma prova de afeição
Talvez tu não a leias mas quem sabe até dará
Resposta imediata me chamando de "Meu Bem"
Porém o que me importa é confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida mais ninguém
Tanto tempo faz, que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão de que já vi passar
Um ano sem te ver, um ano sem te amar
Ao me apaixonar por ti não reparei
Que tu tivesses só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Tanto tempo faz, que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão de que já vi passar
Um ano sem te ver, um ano sem te amar
Ao me apaixonar por ti não reparei
Que tu tivesses só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...

Poesia - notícia
JTParreira

Já a noite caiu do céu e a Ásia
vista do universo
é um continente imerso no escuro
a África aguarda que o planeta role
para se vestir também de negro
e depois a Europa
mais tarde a América sem o sol
para sair da noite
consome as próprias luzes
e alguém
morre de fome
de 3,6 em 3,6
segundos.


Receita de poesia
Homo Poyesis

INGREDIENTES:

- Papel
- Caneta
- Palavras
- Tempero
- Tempo
- Espaço
- Flores
- Aquele Momento

MODO DE PREPARO:

Faça uma viagem para dentro de si mesmo.
Procure no âmago de seu ser, um espaço para uma experiência extraordinária.
Acredite nesse espaço. Seja esse espaço! Mergulhe na imensidão do infinito que o seu corpo é. Chegou? Pois bem, esse lugar chama-se: Eterno Vazio de Lugar Nenhum. É de lá que surge tudo aquilo que essencialmente é, matéria prima de poesia.

Misture todos os ingredientes numa folha de papel em branco, esquecida no fundo de uma gaveta velha, desgastada com o tempo; tempo de poesia.

O tempo no qual o próprio tempo não se inscreve; O tempo no qual o próprio tempo não inscrito se encontra. É o tempo de tempo nenhum. É todo o tempo.

E nesse instante você encontra-se em pleno estado de devaneio poético, enquanto a massa se constrói sobre o papel empedernido de memórias, em códigos e palavras. Palavras que não são apenas palavras; Palavras que são temperos e que são o tempo todo, tudo aquilo que ainda não é, e o que as próprias palavras não conseguem significar. Tempo que se constrói no tempo nenhum, no vazio do tempo. O vazio que não é o nada, pois o nada em si não existe, e por e assim o é. O nada é no não existir.

Como uma massa de rabiscos; Uma massa de rabiscos acrescida de temperos e palavras.

Agora deixe essa massa descansar em banho-maria com flores.

Pegue lírios, orquídeas e camélias. Pegue também jasmins. As flores darão o aroma essencial à poesia e exalarão através desse aroma a beleza de doces melodias que lembrarão cânticos de pequenos pássaros no amanhecer de uma primavera exuberante. Assim, a massa já estará pronta para ir ao forno, e penetrar nas entranhas encobertas pela própria pele.

A poesia estará pronta no tempo em que o seu tempo determinar. Não é mais nem menos, é o seu tempo. É o tempo de sua poesia.

Quanto à caneta...Esqueça-a. Não há receita que seja completa sem o toque da singularidade; não há canetas no universo que possam registrar o valor da verdadeira poesia, porque a verdadeira poesia está sempre se rabiscando no Eterno Vazio de Lugar Nenhum, sob o cântico dos pássaros, à luz de sua sensibilidade, no calor de seu peito. A essência da poesia não se permite escrever. Não existe receita!

A verdadeira poesia não tem que ser nada, nem em palavras, nem em rabiscos, pois ela simplesmente é; a verdadeira poesia não pode ser significada pela metafisica das palavras, nem pela vaidade dos códigos. Ela deve ser como a massa ainda crua do pão, que pode ser sempre transformada, conforme o tempo, conforme a música, conforme a insensatez virtuosa do ser, ou como uma folha de papel em branco, esquecida no fundo de uma gaveta velha, sem cor, sem palavras, sem nada, sempre em constante estado de Poesia.

A verdadeira poesia deve ser degustada quentinha e apreciada com a verdade da alma. Sempre que precisar, busque sempre uma receita nova no íntimo de sua sabedoria, no seu coração, uma reserva infinita de poesias que alimenta nossas vidas

Feijoada à moda de Vinícius de Moraes

Receita que o poetinha dedicou a Helena Sangirardi , autora de livros de culinária .Publicado na revista MANCHETE .

Amiga Helena Sangirardi,
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci,
E embora _ perdoe_ tão tarde.
(Melhor que nunca!) este poeta,
Segundo manda a boa ética,
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.
Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho,
O feijão deve , já catado,
Nos esperar, feliz, de molho.
E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte,
Já deve ter tacado peito,
E preparado e posto à parte
Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho _ e o que mais for azado.
Tudo picado desde cedo,
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais … vulgar
Às nossas mãos de aedo
Enquanto nós, a dar uns toques
No que não nos seja a contento,
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uisque on the rocks.
E_atenção!_ segredo modesto,
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma lingua fresca, pelada,
Posta a cozer com todo o resto.
Feito o que, retira-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado,
De modo a ter-se um molho grosso
Que vai de volta ao caldeirão,
No qual o poeta , em bom agouro,
Deve esparzir folhas de louro
Com gesto clássico e pagão.
Inútil dizer que, entrementes,
Em chama à parte dessa liça
Devem fritar todos contentes,
Lindas rodelas de linguiça.
Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio),
Nós bocejando o nosso tédio,
Nos chegaremos ao fogão.
E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas,
Provaremos a rica negrura,
Por onde devem boiar postas
De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho,
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)
Enquanto ao lado, em fogo brando
Dismilinguindo-se de gozo,
Deve também se estar fritando
O torresminho delicioso.
Em cuja gordura, de resto,
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve picada, em fogo alegre e presto.
Uma farofa? _ tem seus dias…
Porém que seja na manteiga!
A laranja, gelada, em fatias,
(Seleta ou da Bahia) _ e chega.
Só na última cozedura,
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco da gordura
Da linguiça na iguaria _ e mexa-se
Que prazer um corpo pede
Após ter comido um tal feijão?
_Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão…
Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta…_jamais!
Abraça-a em Brillat-Savarin
O seu Vinicius de Moraes.