Às vezes nos perguntamos: “Como levar meu aluno a ler?” Como se essa fosse uma missão a ser cumprida. Pode ser. Mas como na Missão Impossível do filme protagonizado por Tom Cruise, há tantos obstáculos que a meta parece inatingível. Só para relembrar alguns: não há livros na casa de muitos alunos, o hábito da leitura não cultivado em casa, a biblioteca da escola (quando ainda existe) geralmente é mal equipada, TV e computador são ais atraentes, os alunos lêem mal por isso preferem atividades que exijam menos esforço mental. Pois é... mas para cada obstáculo existe uma estratégia específica e para cada aluno há uma maneira diferente de encarar a situação. Só para ilustrar o que estou tentando explicar, vou uma experiência pessoal. Eu sempre gostei de ler aquilo que QUERIA ler. Mas odiava ler por obrigação. Acho que quase todo mundo é assim. Quando eu estava na oitava série, meu professor de português exigiu de todos nós que lêssemos “Sagarana” de Guimarães Rosa para fazer um trabalho de análise da obra. Resultado: enrolei, enrolei e li somente algumas partes que me levaram a ter uma idéia geral da história e fiz meu trabalho baseado numa interpretação superficial do texto. Na parte da conclusão escrevi uma dura crítica á chatice do livro e ao fato de ter sido obrigada a lê-lo. O professor ficou visivelmente triste ao ler meu trabalho. E, embora discordando de mim, não falou mais no assunto até que surgiram os fatos que mudariam essa história. Naquele ano meu pai faleceu e minha mãe teve muitos problemas tentando manter uma propriedade rural pertencente à família. Por mais esforço que ela fizesse não havia sucesso e a chácara que, aos cuidados de meu pai era cercada de matas verdes, pomares, horta, plantações vistosas, pasto e muitos animais, estava se tornando um lugar feio, árido e sem vida. Naquele, o calor e a seca estavam destruindo tudo, inclusive os sonhos e esperanças de minha mãe. Quando o professor solicitou uma redação com tema livre, escrevi sobre as minhas impressões quando visitava aquele lugar. Fiz um texto chocante, emocionado, no qual eu comparava a morte súbita de meu pai à morte lenta e agonizante de nossos sonhos enquanto o córrego secava, as plantas perdiam as cores e os animais desapareciam. A natureza parecia corresponder, de maneira trágica à falta de meu pai naquelas redondezas. Eu consegui, aos treze anos, imprimir toda a minha emoção em um texto que impressionou o meu professor. Quando devolveu a redação corrigida, ele colocou um comentário mais ou menos assim: “Como pôde não gostar do Guimarães Rosa se você escreve com o mesmo estilo marcante dele?” Puxa! Fiquei surpresa! Ele me comparou ao escritor Guimarães Rosa!!! Fui lá e perguntei: “Professor, meu texto parece com que livro do Guimarães Rosa?” Ele disse “Vidas Secas” pronto! Fui atrás, li o livro em três dias e depois fui agradecer ao professor pela sensibilidade, o estímulo, a espera do momento certo para me corrigir. Viu?! Cada obstáculo uma estratégia e para cada aluno uma forma de agir.
CURSO-OLP: ESCREVENDO O FUTUIRO
Há 12 anos
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