Em seu livro "Classificados Poéticos" Roseana Murray faz alguns anúncios poéticos, leia as poesias e veja as ofertas.
Colecionador
Colecionadorde cheiros troca
um cheiro de cidade
por um cheiro de neblina
um cheiro de gasolina
por um cheiro de chuva fina
um cheiro de cimento
por um cheiro de orvalho no vento.
Equilibrista
Procura-se um equilibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do diaq
ue saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo o dia.
Agora é a sua vez.
O que você teria para trocar? O que está procurando? Faça seus anúncios!
Troca-se!
Troco uma bicicleta por ________
Troco um pássaro na gaiola por _________
Troco um gato manhoso por____________
Troco__________ por uma festa animada.
Troco __________ por um prato de batatas fritas.
Troco__________ por ______________
Troco __________por ______________
Procura-se!
Procuro um vizinho que _____________
Procuro uma cozinheira que ______________
Procuro um amigo que ______________
Procuro ___________que _____________
Procuro ___________que _____________
Veja só as paródias desses alunos usando os textos da Roseana Murray como modelo:
Classificados Poéticos
Vende-se um apartamento encantado,
No centro daquela cidade
Tem dois lindos sabões
Para pessoas de qualquer idade.
Tem uma bela lareira,
No canto da sala
Para você se esquentar
Em dias de geada.
Se você tiver interessado
Venha logo para cá,
Não demore, meu amigo
Pois sem apartamento vai ficar.
(Jean Carlos da Costa – 3ª série)
Classificados Poéticos
Vende–se uma taça encantada
Cheia de alegria
Que para quem está
Precisando é uma ótima
Companhia.
Vende-se um coração velho
Mas que um dia já foi jovem,
Alegre feliz contente e com
Muito talento
Quem quiser verá que
Ainda existe muito conhecimento
Precisa-se de uma criança
Inocente, que mostre ao
Mundo o caminho da
Felicidade, paz, e da verdade
E que ilumine a todos
Com sua inocência fazendo- nos
Por a mão na consciência...
(Rafaela Soares Ribeiro – 3ª série)
Classificados Poéticos
Troco uma Belina vermelha
Por um jegue cor de ovelha
Quero que ele me leve para o infinito
E que galope a Deus dará
Pois já me cansei deste engarrafamento.
Compra-se um fusca importado.
Vende-se um carro roubado,
Fazemos todos os tipos de negócio.
Cada venda um novo sócio.
E cada sócio, um novo problema.
Tem bicicleta de todas as cores também
Vendemos flores.
Alecrim, rosas, violeta.
E também temos flores pretas.
Vende-se uma casa de dois pisos que o
Chão é todo liso e leva junto de brinde
Um grupo de amigos.
Vende-se na loja do tio João arroz, feijão,
Batata e macarrão, mas ele também troca
Tudo isso por um grande e belo avião.
Troco um boi pintado
Por um burro peçonhento
Um burro que seja lento
Mas que seja orientado
E que no seu trote
Não me quebre o cangote...
(Jaqueline Savoldi, Lucas Robaert, Vitor Casagrande, Wesley dos Santos – 3ª série)
Classificados Poéticos
Vende-se uma chácara encantada na beira de um lago
Tem duas áreas de lazer nas quais tem churrasqueiras e piscinas.
Até parece um reino Encantado.
Há! Uma trilha que é uma beleza
Onde você poderá conhecer os encantos da natureza.
Precisa-se de atletas para a taça La Salle
Que sejam alegres e dispostos, isso tudo vale.
O prêmio será um troféu em forma de véu.
E a torcida em coro cantava: Vale! Vale! La Salle!
Precisa-se de 11 jogadores
Para formar um time de futebol
Todos são trabalhadores
E também gostam de jogar handbol.
Vendem-se duas plantas encantadas
Com um jardim muito bonito
As mulheres ficam impressionadas
E os homens dando risada.
Procuram-se meninos e meninas
Para fazer várias equipes
Os meninos jogam com azul
E as meninas com rosa -pinque.
(Maiara Weirich, Willian Rodrigues – 3ª série)
A Carta
Exaltasamba
Não existem mais palavras
Que eu possa escrever
Pra falar de tanto amor
Entenda por favor
Que uma carta é muito pouco
Para revelar o retrato da tristeza
E a cicatriz da saudade
Que você deixou no meu peito
Tatuagem de amor, não tem jeito
Nunca vai sair de mim esta dor
Entenda o que eu vou te dizer
(Dois pontos)
Vem de volta pro meu coração
(Exclamação)
Não posso viver sem você
Não tenho razão nem porquê
Me acostumar com a saudade
Nem vírgula vai separar
Nessa oração
Teu nome da minha paixão
Não leve a mal
Eu sei que não sou escritor
É só uma carta de amor
De alguém que te quer de verdade
A carta
Legião Urbana
Escrevo-te estas mal traçadas linhas meu amor
Porque veio a saudade visitar meu coração
Espero que desculpes os meus erros por favor
Nas frases desta carta que é uma prova de afeição
Talvez tu não a leias mas quem sabe até dará
Resposta imediata me chamando de "Meu Bem"
Porém o que me importa é confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida mais ninguém
Tanto tempo faz, que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão de que já vi passar
Um ano sem te ver, um ano sem te amar
Ao me apaixonar por ti não reparei
Que tu tivesses só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Tanto tempo faz, que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão de que já vi passar
Um ano sem te ver, um ano sem te amar
Ao me apaixonar por ti não reparei
Que tu tivesses só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu...
Poesia - notícia
JTParreira
Já a noite caiu do céu e a Ásia
vista do universo
é um continente imerso no escuro
a África aguarda que o planeta role
para se vestir também de negro
e depois a Europa
mais tarde a América sem o sol
para sair da noite
consome as próprias luzes
e alguém
morre de fome
de 3,6 em 3,6
segundos.
Receita de poesia
Homo Poyesis
INGREDIENTES:
- Papel
- Caneta
- Palavras
- Tempero
- Tempo
- Espaço
- Flores
- Aquele Momento
MODO DE PREPARO:
Faça uma viagem para dentro de si mesmo.
Procure no âmago de seu ser, um espaço para uma experiência extraordinária.
Acredite nesse espaço. Seja esse espaço! Mergulhe na imensidão do infinito que o seu corpo é. Chegou? Pois bem, esse lugar chama-se: Eterno Vazio de Lugar Nenhum. É de lá que surge tudo aquilo que essencialmente é, matéria prima de poesia.
Acredite nesse espaço. Seja esse espaço! Mergulhe na imensidão do infinito que o seu corpo é. Chegou? Pois bem, esse lugar chama-se: Eterno Vazio de Lugar Nenhum. É de lá que surge tudo aquilo que essencialmente é, matéria prima de poesia.
Misture todos os ingredientes numa folha de papel em branco, esquecida no fundo de uma gaveta velha, desgastada com o tempo; tempo de poesia.
O tempo no qual o próprio tempo não se inscreve; O tempo no qual o próprio tempo não inscrito se encontra. É o tempo de tempo nenhum. É todo o tempo.
E nesse instante você encontra-se em pleno estado de devaneio poético, enquanto a massa se constrói sobre o papel empedernido de memórias, em códigos e palavras. Palavras que não são apenas palavras; Palavras que são temperos e que são o tempo todo, tudo aquilo que ainda não é, e o que as próprias palavras não conseguem significar. Tempo que se constrói no tempo nenhum, no vazio do tempo. O vazio que não é o nada, pois o nada em si não existe, e por e assim o é. O nada é no não existir.
Como uma massa de rabiscos; Uma massa de rabiscos acrescida de temperos e palavras.
Agora deixe essa massa descansar em banho-maria com flores.
Pegue lírios, orquídeas e camélias. Pegue também jasmins. As flores darão o aroma essencial à poesia e exalarão através desse aroma a beleza de doces melodias que lembrarão cânticos de pequenos pássaros no amanhecer de uma primavera exuberante. Assim, a massa já estará pronta para ir ao forno, e penetrar nas entranhas encobertas pela própria pele.
A poesia estará pronta no tempo em que o seu tempo determinar. Não é mais nem menos, é o seu tempo. É o tempo de sua poesia.
Quanto à caneta...Esqueça-a. Não há receita que seja completa sem o toque da singularidade; não há canetas no universo que possam registrar o valor da verdadeira poesia, porque a verdadeira poesia está sempre se rabiscando no Eterno Vazio de Lugar Nenhum, sob o cântico dos pássaros, à luz de sua sensibilidade, no calor de seu peito. A essência da poesia não se permite escrever. Não existe receita!
A verdadeira poesia não tem que ser nada, nem em palavras, nem em rabiscos, pois ela simplesmente é; a verdadeira poesia não pode ser significada pela metafisica das palavras, nem pela vaidade dos códigos. Ela deve ser como a massa ainda crua do pão, que pode ser sempre transformada, conforme o tempo, conforme a música, conforme a insensatez virtuosa do ser, ou como uma folha de papel em branco, esquecida no fundo de uma gaveta velha, sem cor, sem palavras, sem nada, sempre em constante estado de Poesia.
A verdadeira poesia deve ser degustada quentinha e apreciada com a verdade da alma. Sempre que precisar, busque sempre uma receita nova no íntimo de sua sabedoria, no seu coração, uma reserva infinita de poesias que alimenta nossas vidas
Feijoada à moda de Vinícius de Moraes
Receita que o poetinha dedicou a Helena Sangirardi , autora de livros de culinária .Publicado na revista MANCHETE .
Amiga Helena Sangirardi,
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci,
E embora _ perdoe_ tão tarde.
(Melhor que nunca!) este poeta,
(Melhor que nunca!) este poeta,
Segundo manda a boa ética,
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.
Em atenção ao adiantado
Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho,
O feijão deve , já catado,
Nos esperar, feliz, de molho.
E a cozinheira, por respeito
E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte,
Já deve ter tacado peito,
E preparado e posto à parte
Os elementos componentes
Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho _ e o que mais for azado.
Tudo picado desde cedo,
Tudo picado desde cedo,
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais … vulgar
Às nossas mãos de aedo
Enquanto nós, a dar uns toques
Enquanto nós, a dar uns toques
No que não nos seja a contento,
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uisque on the rocks.
E_atenção!_ segredo modesto,
E_atenção!_ segredo modesto,
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma lingua fresca, pelada,
Posta a cozer com todo o resto.
Feito o que, retira-se caroço
Feito o que, retira-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado,
De modo a ter-se um molho grosso
Que vai de volta ao caldeirão,
Que vai de volta ao caldeirão,
No qual o poeta , em bom agouro,
Deve esparzir folhas de louro
Com gesto clássico e pagão.
Inútil dizer que, entrementes,
Inútil dizer que, entrementes,
Em chama à parte dessa liça
Devem fritar todos contentes,
Lindas rodelas de linguiça.
Uma vez cozido o feijão
Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio),
Nós bocejando o nosso tédio,
Nos chegaremos ao fogão.
E em elegante curvatura:
E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas,
Provaremos a rica negrura,
Por onde devem boiar postas
De carne-seca suculenta
De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho,
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)
Enquanto ao lado, em fogo brando
Enquanto ao lado, em fogo brando
Dismilinguindo-se de gozo,
Deve também se estar fritando
O torresminho delicioso.
Em cuja gordura, de resto,
Em cuja gordura, de resto,
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve picada, em fogo alegre e presto.
Uma farofa? _ tem seus dias…
Uma farofa? _ tem seus dias…
Porém que seja na manteiga!
A laranja, gelada, em fatias,
(Seleta ou da Bahia) _ e chega.
Só na última cozedura,
Só na última cozedura,
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco da gordura
Da linguiça na iguaria _ e mexa-se
Que prazer um corpo pede
Que prazer um corpo pede
Após ter comido um tal feijão?
_Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão…
Dever cumprido. Nunca é vã
Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta…_jamais!
Abraça-a em Brillat-Savarin
O seu Vinicius de Moraes.
Um comentário:
Nossa! Você realmente sabe explorar os gêneros textuais.Parabéns!
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